quarta-feira, 5 de agosto de 2015

COMO FAZER UMA EDUCAÇÃO ESCOLAR MAIS HUMANIZADA



POR QUE O MODELO ESCOLAR NÃO EVOLUI?

Responder essa pergunta é muito simples. Isso acontece porque a maioria das pessoas dentre elas professores não conhecem a história da humanidade, nunca leu como se deu o processo educacional, nunca se interessou em entender a origem do fracasso da educação. E quando falamos em fracasso, muitos devem pensar na educação brasileira, que de fato é um fracasso, porém, podemos considerar que historicamente o surgimento da escola não se deu pelo interesse natural do povo em instruir-se. A escola nasce da necessidade de se controlar, nasce da coersão, nasce do poder e tinha um cunho fundamentalmente religioso, pois, a visão era de se chegar a deus através da leitura da bíblia.
Bom, para discutirmos em que alicerce a escola foi sustentada, ficaríamos por horas, então no momento sugiro que procurem leituras que esclareçam essa questão. O que eu gostaria no momento é de propor uma reflexão e contar um pouco como conduzi a minha jornada como professora.
Atuo na área educacional há 32 anos, porém, se eu contar com meus anos de escola em que muito pequena já me indignava com meus professores, somam 40 anos de envolvimento e esforço para mudar o rumo e eficácia da educação.
Nós acabamos generalizando quando falamos de escola. Na verdade todos nos gostamos da escola como um ambiente socializador. Gostamos do recreio, das aulas de Ed. Física, de arte, de teatro, então a escola não é tão ruim assim. O que a torna extremamente fracassada são aspectos pontuais como, a grade curricular, a maneira como os professores conduzem o saber, uma disciplina baseada no militarismo, a falsa democracia que permeia o trabalho, a falsa autonomia dos alunos e a incompetência disfarçada do professor e, esse último aspecto, a meu ver é o mais devastador de todo o processo pedagógico.  Nesse ponto eu volto à minha história. Ainda no ensino fundamental I, eu não me conformava com a forma como os professores tratavam os alunos. Controlavam-nos através do medo, da chantagem, da ameaça nos humilhavam. Nesse sentido, a escola é o ambiente mais deseducador que existe.  Por que as crianças na fase da educação infantil  adoram a escola? Porque é uma fase em que o amor é evidente. As crianças até 10 anos mais ou menos aprendem por amor e dos 11 anos em diante aprendem por admiração e, é nessa fase que as coisas começam a piorar na escola, os alunos não admiram seus professores.
Sempre tive dificuldade com a matemática e minha situação piorou quando cheguei no 5º ano, então minha mãe me colocou em uma professora particular; outro paradoxo educacional, os alunos precisarem de reforço fora da escola, mas enfim, tive contato com a  Marisa, melhor professora do mundo. Na escola não entendia nada do conteúdo e quando a minha professora particular me ensinava, tudo era absolutamente compreensível. No 6º ano a dificuldade persistia, quando a professora teve um problema de saúde e entrou de licença. No seu lugar iniciou um professor que fez a diferença na minha vida e na vida da classe, professor Renato, que ensinava realmente. Hoje penso muito a respeito desses professores. Na época não conseguia compreender porque conseguia entender com a explicação de uns e obtinha ótimos resultados e com outros era um fracasso. Mas desde que me tornei professora, essa compreensão aconteceu. E assim foi, me tornei professora para poder fazer tudo diferente, para poder honrar a professora Marisa e o professor Renato. Foi quando percebi que aprendemos por admiração, por amor, pelo exemplo. Os professores que entendem que a educação é um processo de perpetuação da espécie humana, que a educação acontece pelo mito, pelas crenças, pela cultura, pelo histórico dos aprendizes, que educar é um processo de amor, esses sim atingem o objetivo da aprendizagem significativa.
Diante de tudo isso, como fazer a diferença dentro da escola?
 Na minha caminhada, tive a oportunidade de trabalhar com alunos desde a educação infantil até cursos de pós-graduação e essa experiência me mostrou que não há diferença no ensino escolar. Não importa a idade do aluno, todos procuram encontrar naquele que ensina, algo que seja realmente verdadeiro.
E assim tenho sido extremamente bem sucedida  e amada por todos os meus alunos, por simplesmente ser verdadeira e não corromper meus alunos em nome da instituição escolar. Consigo dentro de uma escola, realizar um trabalho de respeito ás individualidades. Não obrigo meus alunos a fazer o que não estão sensibilizados a fazer, não faço fila, andamos em grupo, não faço prova pra eles, faço-as para mim. Cumpro sim com o conteúdo programático, porém utilizo a transposição didática de maneira a orgulhar o meio científico que o pesquisou. Tenho total consciência de que meus alunos nasceram na era tecnológica e eu na era industrial, portanto não posso educá-los para o retrocesso.
Portanto, ensinar livre dos paradigmas antiquados da escola me parece uma realidade cada vez mais concreta. Ou então utilizar o espaço entre as paredes da escola para um ambiente seguro, sociável, de respeito a todos. Hoje muito se fala no desenvolvimento de habilidades  e competências, porém, os professores  em sua maioria não estão preparados para  reconhecer as habilidades dos alunos, ou até podem reconhecer, mas não sabem lidar com elas. A escola no modelo em que se encontra, não sabe o que fazer com a competência dos alunos. 
Enquanto os profissionais envolvidos com a educação não evoluírem, mantendo a escola nos moldes do século xviii, o que é incrível, jamais faremos uma educação para a vida, para o sucesso, para a cidadania.
Quero dizer que o que move a educação é o ideal do ser humano, é o amor que liberta. O ato de ensinar e aprender  está no cerne humano.  O processo educacional está presente nas ações cotidianas e não apenas no ambiente escolar, no entanto é possível realizar uma educação libertária se a alma do professor for livre de preconceitos e opreções e isso se dá, através da autoeducação. O professor que protege seus alunos de sua própria influência, esse sim está apto a protagonizar uma história de ensinagem significativa.
Educar é uma ação natural, espontânea, sensitiva, sem moldes, modelos ou formatos. Quando educar se torna um ato mecânico, metódico, repetitivo, ah! Não é educação é massacre!
Andrea Cassone

2 comentários:

  1. Adorei o texto! Sou professora e me sinto muito angustiada por não poder sair do modelo que minha escola impõe.
    Como posso começar a mudar a minha prática sem incomodar os outros professores?

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    1. Olá Sonia Cristina! Obrigada pela pergunta, que na verdade é a de muitos professores.
      Bom você pode promover mudanças em sua sala, sem "ofender" seus colegas. Que triste uma professora querendo inovar, mas com medo de sofrer opressão! Triste e real. A maioria das pessoas vivem no modo automático e qualquer movimento ao redor gera incômodo.
      Faça o seguinte: Comece com seus alunos. Antes de iniciar a aula, converse com eles sobre como estão se sentindo, quem está feliz por estar na escola, quem gostaria de estar em casa, se eles tem alguma sugestão para tornar o dia a dia escolar mais dinâmico e atrativo. Com essa conversa você está mostrando que eles tem importância, que a opinião e participação de todos, vai dinamizar as aulas. Você vai perceber que introduzindo essas rodas de conversa, a turma começará a se envolver mais no processo educacional. Ouça-os e na medida do possível vá realizando o que eles estão solicitando. O professor se acostumou a ser o detentor de tudo o que acontece em sala. Quando chamamos os alunos e dividimos com eles as problemáticas que enfrentamos, o caminho fica mais solidário e suave. Pedir a opinião, ouvir sugestões e até realizar atividades propostas pelos alunos, é algo surpreendente.
      Então o primeiro passo é criar sinergia com a turma e as transformações começam a acontecer, isso eu te garanto.

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