terça-feira, 29 de setembro de 2015

COMO A ESCOLA VAI SE TRANSFORMANDO...

A escola vai se transformando e enriquecendo as relações humanas e as relações dos conteúdos ensinados com a vida prática.
Hoje um professor inovador não ensina apenas, ele também media as relações sociais dos alunos e de fato contextualiza os conceitos que serão trabalhados.
Observem o exemplo a seguir: Meus alunos estavam no parque da escola brincando de sobreviventes da floresta, de baixo da ponte de pneus criaram uma cabana, pegaram  matinhos que eram as comidas que encontraram na floresta, fizeram uma clareira e juntaram gravetos para acender a fogueira, um deles estava machucado, quando outro falou: - Temos que aquecê-lo!
Continuava a observar a brincadeira, quando Davi me pediu se seria possível acender a fogueira. Em tempos atrás eu diria que não! Imagina!! Brincar com fogo? Só que vivo em um tempo em que a escola deve proporcionar experiências, então eu disse que era possível sim!
Acendemos a fogueirinha e a alegria que invadiu aquelas crianças foi realmente de emocionar! Nesse momento pude explicar porque é mais fácil pegar fogo em gravetos mais secos, que quando a madeira ainda contém muita água em seu interior ela não queima, trabalhamos o cuidado que devemos ter ao mexer com o fogo, enfim, infinitas possibilidades de aprendizagem surgiram no momento em que me propus a acender a fogueira.
Outra experiência foi quando as crianças passaram por uma poça de lama que se formou no parque, uma delas me pediu se poderia por a mão na lama e eu disse que sim! Mais uma vez, em tempos passados diria que não, mas eu avancei no tempo e compreendo que vivenciar tem mais significado do que ensinar. Conclusão, as crianças formaram barro e ainda criaram esculturas, verdadeiras obras de arte. Pena que quando secaram, racharam e dai abrimos espaço para outra pesquisa: O que fazer para as esculturas não racharem!
A educação escolar atual deve contemplar momentos de aprendizagens que só se concretiza se for vivenciada, compreendida, desejada. Fato é que 80% do que ensinamos na escola não tem correspondência com o mundo interno da criança, portanto não é aprendizagem e sim ensinagem de conceitos que nada significarão no futuro.
Ousar, experimentar, fazer diferente, sair do óbvio, ENCORAJAR-SE. Só assim mudaremos o curso desse rio, a fim de que a escola seja um ambiente merecedor de crianças ativas e VIVAS, do contrário estamos seifando o que há de mais belo no ser humano: o poder da VONTADE!

quinta-feira, 10 de setembro de 2015

AÇÕES INTELIGENTES EM SALA DE AULA. Uma abordagem Histórico-Crítica

A grande sacada para a inovação educacional é a compreensão que o professor deve ter de relacionar o currículo engessado da escola, com a vida cotidiana dos alunos e ir em busca de ações inteligentes em sala de aula. para tanto necessita de conhecimento, investigação, bom-senso e respeito pelos alunos.
Quando oferecemos para os alunos modelos retrógrados, estamos ferindo absurdamente a capacidade de crescimento desses seres humanos que precisam enxergar no professor a possibilidade de uma formação integral em bases renovadoras.
Vamos fazer algumas reflexões a cerca da PEDAGOGIA HISTÓRICO-CRÍTICA DE SAVIANI.

[...] compreender a educação no seu desenvolvimento histórico-objetivo e, por consequência, a possibilidade de se articular uma proposta pedagógica cujo ponto de referência, cujo compromisso, seja a transformação da sociedade e não sua manutenção, a sua perpetuação [...] (ibidem, p. 93).
A Prática Social Inicial é sempre uma contextualização do conteúdo. É um momento de conscientização do que ocorre na sociedade em relação àquele tópico a ser trabalhado, evidenciando que qualquer assunto a ser desenvolvido em sala de aula já está presente na prática social, como parte constitutiva dela (GASPARIN, 2007, p. 24).
Vamos pensar sobre: articular uma proposta pedagógica cujo ponto de referência, cujo compromisso, seja a transformação da sociedade e não sua manutenção, a sua perpetuação.
O que temos feito é justamente perpetuar uma educação ultrapassada, mantendo padrões educacionais que não condizem com a transformação da sociedade.

A Prática Social Inicial é sempre uma contextualização do conteúdo. É um momento de conscientização do que ocorre na sociedade em relação àquele tópico a ser trabalhado, evidenciando que qualquer assunto a ser desenvolvido em sala de aula já está presente na prática social, como parte constitutiva dela (GASPARIN, 2007, p. 24).
Refletindo a consideração acima, todo o conteúdo que não seja associado a vida prática deve ser desconsiderado, no entanto temos a ditadura dos Sistemas Didáticos que faturam milhões, portanto quanto mais extenso for o material apostilado, mais faturamento para esses sistemas. Diante disso, as escolas ficam reféns e os professores precisam trabalhar com uma quantidade absurda de conteúdo restando pouco tempo para as relações humanas.

[...] não pode ser apenas uma estratégia pela qual um conjunto de conteúdos pré-elaborados, dado ao professor, passaria por um processo de seleção em função das questões relevantes para a prática social. Haveria então um enlaçamento artificial entre os conteúdos necessários em uma determinada cultura e aqueles pontos que a prática social de um determinado grupo considera relevantes (WACHOWICZ, 1989, p. 100 apud GASPARIN, 2007, p. 38).

Eu acredito que os professores precisam sim selecionar os conteúdos a serem trabalhados em concordância com os alunos.


Saviani (2007, p. 72) explica dizendo que cartase é
O momento da expressão elaborada da nova forma de entendimento da prática social a que se ascendeu [...] trata-se da efetiva incorporação dos instrumentos culturais, transformados agora em elementos ativos de transformação social [...] Daí porque o momento catártico pode ser considerado o ponto culminante do processo educativo, já que é aí que se realiza pela mediação da análise levada a cabo no processo de ensino, a passagem da síncrese à síntese; em consequência, manifesta-se nos alunos a capacidade de expressarem uma compreensão da prática em termos tão elaborados quanto era possível ao professor.
Cabe ao ensino escolar, portanto, a importante tarefa de transmitir à criança os conteúdos historicamente produzidos e socialmente necessários, selecionando o que desses conteúdos encontra-se, a cada momento do processo pedagógico, na zona de desenvolvimento próximo [...] (DUARTE, 2007, p. 98).
É mais do que importante que os conteúdos não sejam mais pré-estabelecidos, que a construção dos saberes sejam discutidos previamente entre professores e alunos e nesse processo o conhecimento do professor, no sentido de orientar e inspirar os alunos para os conteúdos é condição essencial.

A Prática Social Final é a nova maneira de compreender a realidade e de posicionar-se nela, não apenas em relação ao fenômeno, mas à essência do real, do concreto. É a manifestação da nova postura prática, da nova atitude, da nova visão do conteúdo no cotidiano. É, ao mesmo tempo, o momento da ação consciente, na perspectiva da transformação social, retornando à Prática Social Inicial, agora modificada pela aprendizagem.

É em razão disso que esta fase viabiliza aos aprendentes agir de forma autônoma e criativa. Buscando realizar operações mentais e/ou materiais com suas próprias "pernas", progredindo do nível de desenvolvimento potencial para o nível de desenvolvimento real, pontos essenciais defendidos por Vygotsky nos seus estudos sobre a aquisição da aprendizagem pelo ser humano.
CONCLUSÃO
Compreendendo que a formação docente deve perpassar desde os fundamentos teóricos até os fundamentos metodológicos, precisamos atentar para os desafios que nossa sociedade lança a todos, e ainda as ideologias que o mundo oficial persiste em inculcar na formação de nossos educadores.
Então, partir dos pressupostos da pedagogia histórico-crítica é uma alternativa que pode nos libertar das amarras do mundo oficial e endossar o clamor pela resistência que o mundo real tanto precisa para combater as fragilidades da formação docente e eliminar a reprodução da sociedade. Para tanto, os fundamentos filosóficos da pedagogia instituída por Saviani faz-se como elemento de luta e de solo firme para nossa caminhada.
Precisamos, finalmente, compreender a educação no seu desenvolvimento histórico-objetivo, como nos alerta Saviani (2008), em razão disso, nos comprometermos com a transformação da sociedade e não na sua perpetuação. Encarando o trabalho pedagógico como essência da realidade do educador e o saber como meio de produção que disponibilizará forças para a mudança social que tanto almejamos.

Os professores se afogam no conteudismo e não lhes resta o tempo mais precioso da aula que é o de estreitar os laços de empatia com seus alunos, o que dá origem a uma prática fria, calculada em torno do pouco tempo das aulas fragmentadas, dos conteúdos dissociados da vida, pouca vivência e muita reprodução, sem valor para a aprendizagem efetiva.
Passou da hora dos professores partirem para o novo. Iniciarem uma nova história de parceria com os alunos em busca de conceitos que os formarão como cidadãos atuantes de uma sociedade mais justa e culturalmente mais engajada, no entanto, esse movimento requer muito estudo e uma entrega verdadeira à docência, fato que tem dificultado as tomadas de decisões para uma transformação real.


Trechos retirados do artigo A Abordagem Histórico-Crítica na Formação Docente
escrito por Jónata Ferreira de Moura e considerações de Andrea
Cassone

quarta-feira, 9 de setembro de 2015

INOVAÇÃO, UM CAMINHO SEM VOLTA.

Professores, tem muita coisa acontecendo na educação. Temos mania de ficar reclamando da educação, é quase que um discurso dizer que nada acontece na educação, porém, já não é mais assim! Muitas iniciativas estão acontecendo em prol de uma pedagogia inovadora. Quando saímos da zona de conforto, um mundo de novas ações se abre e começamos a perceber que só é ultrapassado quem quer.
Ser um professor inovador, ou um professor retrógrado, hoje é uma questão de opção.
Quando percebemos que oferecer aos nossos alunos uma prática antiquada, quando nos damos conta de que trabalhando no passado fazemos os nossos alunos retrocederem e que isso é um grande delito, quando observamos movimentos anarquistas relacionados à educação, começamos a transformar os velhos paradigmas e,  por consequência mudamos a nossa prática. E eu afirmo sem medo de errar, é um caminho sem volta.
Quando a consciência de que é preciso avançar, mudar as antigas práticas, ir em busca do novo para novos alunos, uma magia acontece. O grande entrave para a inovação é que os professores acham que não precisam mudar, consideram que suas ações são certas e que nada muda, os alunos são sempre alunos e o que muda é apenas o ano. E assim é! Entra ano e sai ano, os professores não acordam para a realidade de que O MUNDO MUDOU!
Sinto tanta pena dos professores que em pleno 2015, praticam uma educação de 1930.
Sem autoconhecimento, não enxergo possibilidade de inovar. Os professores encontram-se cegos em suas próprias crenças. Quando rompemos nossas barreiras internas, rumamos para fora e assim, vislumbramos uma outra história. Percebemos que existem muitas pessoas fazendo diferente e que oferecer tão pouco aos alunos é um desrespeito, é educar para o retrocesso.
Vou repetir quantas vezes for necessário: Inovar não é sair derrubando tudo, enfrentando tudo sozinho, fazer do oito, oitenta. Vamos inovar dentro do que é possível e com o tempo a metamorfose será completa.
Toda caminhada começa com o primeiro passo. Diante disso, de o primeiro passo.
Posso ajudar?
Vamos lá, faça um pequeno teste. Inicie sua aula de maneira diferente. Se você entra na sua sala, cumprimenta os alunos, faz a chamada e começa a aula, experimente convidar os seus alunos a cantar, isso, diga que está com uma súbita vontade de ouvir uma canção e inspire-os a cantar. Você pode estar achando isso uma besteira, mas não é! A transformação do que fazemos repetidamente, deve começar por algum lugar. Não quer cantar? Então comece alterando a arrumação das carteiras. Diga aos alunos que gostaria de poder enxergar todos os alunos melhor e então forme um círculo. Você perceberá que o clima da aula será outro. Isso ainda te parece estranho, então proponha uma avaliação diferente em que os alunos é quem irão formular as questões, com certeza todos se surpreenderão com o resultado.
Realizando pequenas mudanças, você estará dando o primeiro passo.
Toda mudança de hábitos, de crenças, de paradigmas, causa desconforto, porém, vá em frente, se desafie enquanto educador.
Outra dica importante é: SORRIA MAIS! Isso mesmo, sorria, seja mais simpático, agradável, amoroso. Ninguém gosta de conviver com pessoas rabugentas, que só reclamam. Procure envolver os seus alunos.
Traga alguma lembrança, balas por exemplo. Você está ensinando uma matéria muito densa, uma equação matemática mais complicada, e de repente, distribui gostosas balas. Nossa, alegria total, os alunos vão adorar e se renovarão para continuarem os raciocínios. O olhar deles para você será outro, pode ter certeza. Todos gostam de uma atenção especial e não te custará quase nada.
O importante é a percepção de que a mudança está em nós.
Parar de reclamar e por a mão na massa é um bom começo.
Me desculpe a franqueza, mas se você não está disponível para ir a luta e começar a fazer diferente, acho que a educação não é a melhor opção. Procure outra área.

Andrea Cassone

quinta-feira, 3 de setembro de 2015

COMO ESCOLHER A ESCOLA IDEAL



COMO ESCOLHER A ESCOLA IDEAL?

Falar sobre educação em tempos de mudanças e incertezas, não é uma missão fácil.
As famílias enfrentam tempos difíceis, pais necessitam trabalhar além da jornada normal, na ânsia de conseguirem oferecer à família uma vida mais tranquila e aos seus filhos uma educação de qualidade, para que no futuro possam se tornar profissionais qualificados.
Sabemos do caos que envolve a educação pública e que a procura pelas escolas particulares é cada vez mais real.
Em meio a essas atribulações, como escolher a escola de seus filhos?
Nos dias atuais, a referência de escola não é mais a de anos atrás em que a educação tradicional tinha a única preocupação em transferir conhecimentos. Foi a chamada “escola quantitativa”. A qualidade estava baseada na quantidade de informações, os alunos eram como máquinas que deveriam reproduzir o saber, tal qual o professor ensinava, retratado nas famosas cópias enfadonhas, em decorar conteúdos e fórmulas, sem que o aluno participasse efetivamente do processo de aprendizagem.
Apesar de inúmeras escolas ainda assumirem esse papel , encontramos iniciativas que elevam a educação para o patamar da transformação social. Fala-se em escolas abertas, escolas sem muros, libertárias, mas, como entendê-las?
Apesar de muitas escolas estarem em franca transformação, o que realmente está ao nosso alcance?
 A proposta de uma escola interativa, que caminha para o futuro, visando atender as necessidades da comunidade, auxiliando a família a educar e ensinar seus filhos, propiciando o equilíbrio perdido pela falta de tempo, pela vida corrida e pelas dificuldades que a modernidade nos traz e o caminho.
Procure uma escola que valorize os alunos inspirando-os a buscarem seus potenciais
Uma escola que se compromete com uma educação qualitativa, deve oferecer em seu currículo disciplinas que atendam além do aspecto cognitivo, trabalhar o ser integral do aluno em uma parceria determinante para que ele cresça e conquiste seu espaço.
O espaço físico é muito importante e deve oferecer bem-estar. A equipe de professores também determina a competência da escola e uma metodologia que proporcione o desenvolvimento da autonomia deve ser levada em conta.
Para neutralizar a ação efetiva da tecnologia, a Música, Dança, Teatro, Artes Visuais e Esportes, as chamadas atividades equilibradoras, que proporcionam momentos de alegria e diversão, e desenvolvem o senso ético e estético das crianças devem compor o currículo da escola.
Você deve estar pensando: - Essa escola existe?
Sim, várias escolas já estão caminhando para um ensino humanizado, em que aprender é uma conquista do aluno e do professor, ambos atuando como protagonistas da educação. 
A procura não é tão simples!

Andrea Cassone





UMA RETROSPECTIVA HISTÓRICA DA ALFABETIZAÇÃO NO BRASIL



Frank Viana Carvalho, D. Filosofia

Uma retrospectiva histórica da Alfabetização em Língua Portuguesa no Brasil

O processo de alfabetização em língua portuguesa seguiu caminhos peculiares ao longo da história brasileira. Não temos relatos mais detalhados desse período, a não ser dos primeiros a trabalhar oficialmente com a alfabetização em nossas terras, os jesuítas.

1549 - 1880

Eles eram padres da Igreja Católica que faziam parte da Companhia de Jesus, criada logo após a Reforma Protestante (século XVI) como uma forma de barrar o avanço do protestantismo na Europa e no mundo. Esta ordem religiosa foi fundada em 1534 por Inácio de Loyola justamente no contexto da Contra-Reforma Católica. Os primeiros jesuítas chegaram ao Brasil no ano de 1549, com a expedição de Tomé de Souza.

Dentre seus objetivos, havia o de construir e desenvolver escolas católicas em diversas regiões do mundo e isso incluía o Brasil.

Nas escolas jesuítas funcionavam alguns princípios que se mantiveram por mais de duzentos anos: unificação do método de ensino por todos os professores, ênfase na concentração e na atenção silenciosa dos alunos e um processo de ensino ligado à repetição e memorização dos conteúdos apresentados. Todos estes princípios se sobressaem na “Ratio Studiorum” (Ordem dos Estudos), síntese da experiência pedagógica dos jesuítas, composta de normas e estratégias, que visavam à formação integral do homem, de acordo com a fé e a cultura católica daquele tempo.

Estes princípios irão se manter por muito tempo, mesmo após a expulsão dos jesuítas do Brasil em 1760, inculcados na maneira docente de se relacionar e ensinar conteúdos aos alunos. Ao que tudo indica, os alunos que se tornaram professores após se formarem nas escolas jesuíticas (ou jesuítas) mantiveram a forma e o espírito da atuação de seus predecessores. A alfabetização (desde a chegada dos jesuítas, no início do período do Brasil colônia, até perto do final do segundo império) seguirá de perto este modelo, onde a máxima medieval parecerá ser a única realidade: la letra com sangre entra.

1880 – 1940

No final da década de 1880, o professor da Escola Normal de São Paulo, Antonio da Silva Jardim, divulga no Brasil uma novidade pedagógica que estava fazendo sucesso em Portugal: a Cartilha Maternal, da autoria do poeta português João de Deus (a primeira edição foi em 1876[1]). E qual era a razão do sucesso dessa cartilha? Seu ‘método’ revolucionário de alfabetização.

A Cartilha Maternal (A Arte da Leitura) apresentava pela primeira vez em língua portuguesa uma proposta de ensino através do método analítico, pois partia da ‘palavra’ (palavração), ao contrário dos métodos sintéticos anteriormente utilizados, que partiam das letras (soletração) e das sílabas (silabação).

Cabe ressaltar aqui que os métodos sintéticos partem das unidades menores, as letras ou as sílabas em direção às palavras, depois às frases e finalmente ao texto (das partes para o todo). Já os métodos analíticos partem das unidades maiores - o texto, as frases ou a palavra - em direção às sílabas e letras (do todo para as partes).

A obra de João de Deus estabelecia outros princípios de ensino:
1) O alfabeto era ensinado por partes:
a) primeiro as vogais;
b) depois os encontros vocálicos básicos.
2) O ensino das regras tinha duas premissas:
a) complicação crescente;
b) generalidade decrescente.

Visando dar a sua contribuição a esse assunto, o brasileiro Thomaz Paulo do Bom Sucesso Galhardo[2] apresentou em 1880 a Cartilha da Infância. Nesta, ele focaliza a proposta para o ensino da leitura e escrita de acordo com o método da silabação. Para ele, havia três métodos para a alfabetização: um ‘antiguíssimo’, a soletração, um moderno, a silabação e um moderníssimo, a palavração. Para ele, a realidade brasileira não permitia ainda a utilização da palavração. Seu trabalho foi bem aceito e sua cartilha chegou à 233ª edição em 1992.

Na mesma época, uma nova geração de normalistas formadas pela Escola Normal de São Paulo começou a defender os métodos analíticos em detrimento da soletração e da silabação. Temos então a partir dessa época, de acordo com Mortatti[3], o início do embate entre os métodos sintéticos e analíticos.

Primeiro Momento – 1876 a 1890

Os professores formados pelas Escolas que receberam a influência da Cartilha Maternal defendiam o método analítico da palavração e se consideravam modernos em contraposição aos que defendiam a soletração ou a silabação (esta defendida por Galhardo). Era o embate da Palavração versus Soletração e Silabação.

Segundo Momento – 1890 a 1920

Como o professor Galhardo e outros haviam colocado o método silábico como um caminho moderno, os alfabetizadores se dividiram. Houve uma disputa ainda mais acirrada entre os que defendiam o novo método da palavração e o grupo que defendia o método sintético da silabação. Praticamente não havia defensores da soletração neste momento. Os defensores do método analítico se estranhavam: havia os que se consideravam ‘modernos’ e os que se consideravam ‘mais modernos’. Essa disputa ‘interna’ acontecia em razão da escolha do tipo de ‘todo’ do qual se deveria partir na alfabetização: “a palavração, a sentenciação ou a historieta”[4].

Terceiro Momento – 1920 – 1940

Neste momento surgem aqueles que defendiam caminhos mistos (método analítico-sintético ou sintético-analítico) disputando espaço com os defensores do método analítico. Nesse tempo ocorre também, em função de variados fatores, uma relativização da importância dos métodos. Este ‘esfriamento’ da disputa parecia fazer sentido na época, pois julgavam haver coisas mais importantes em jogo no momento da alfabetização, do que necessariamente o método.

Quarto Momento – 1980 – 2001

Com as propostas construtivistas trazidas por Emília Ferreiro, os partidários de sua ‘revolução conceitual’ se posicionam frontalmente contra os defensores dos métodos tradicionais. Estes últimos não se defenderam no campo teórico, mas sua atuação silenciosa foi e é forte, sobretudo na utilização dos métodos mistos. A ‘onda’ construtivista percorreu o país e tornou-se uma ‘modernidade’ ser ‘construtivista. Até mesmo os PCNs (1996-1998) refletiram a forte influência do modelo. No entanto, dificuldades na aplicação da proposta fizeram e fazem com que muitos docentes ‘construtivistas’ utilizem às escondidas métodos sintéticos para alfabetizar seus alunos.

Quinto Momento[5] – 2002 - 2006

Fruto de pesquisas quantitativas sobre o rendimento dos alunos brasileiros em avaliações internacionais e da adoção de métodos oficiais de alfabetização em países ricos (Estados Unidos, Bélgica, Inglaterra e França, entre outros), começou a surgir ainda no final dos anos noventa (séc. XX) fortes críticas ao modelo construtivista de alfabetização em vigor no Brasil. Boa parte desses críticos entrou em defesa do método fônico[6], alegando ser este um caminho mais eficiente e eficaz para a realidade brasileira. Contudo, vários teóricos construtivistas reagiram energicamente, atacando seus oponentes e alegando que o construtivismo não é um método e que realidades externas não devem servir de parâmetro para o Brasil.

Sexto Momento – 2006

Fruto de reflexões e análises sobre as críticas, o MEC começou a publicar a partir de 2003 materiais nos quais se vê, seja nas entrelinhas, seja abertamente, uma clara ‘permissão’ para a convivência ‘pacífica’ de diferentes tendências metodológicas no processo de alfabetização. Se considerarmos que o "método" Paulo Freire, nosso mais famosos educador, é um "método" silábico, embora, é claro, de ampla conscientização social e política e por esse caminho muitos aprenderam, porque negar as vantagens advindas de modelos como esse? O governo federal estabeleceu através de projetos, portarias e leis que todas as crianças devem ser alfabetizadas até os oito anos e isso criou um novo desafio para as escolas. Como a maioria dos docentes fez uso de caminhos mais ecléticos, a discussão e os debates diminuíram de intensidade, mas o problema da alfabetização insuficiente continua a rondar o país em 2015...


Referências

[1] A Cartilha de João de Deus se difundiu de tal forma em Portugal, que em pouco mais de seis meses de edição já havia mais de duzentas escolas utilizando a Cartilha e em 1888 o governo de Portugal tornou-a método oficial em todo o país. (Mortatti, p. 59).
[2] Thomaz Galhardo (1855-1904) foi aluno da primeira turma da Escola Normal de São Paulo. Dedicou-se ao ensino público onde fez brilhante carreira, ocupando os mais altos e honrosos cargos no magistério paulista. Além de Cartilha da infância, escreveu dois livros de leitura, publicados pela Livraria Francisco Alves (RJ) e vários livros didáticos que foram usados desde o século XIX até o fim do século XX. Um de seus livros, Monografia da letra A, foi citado por Rui Barbosa em sua crítica à redação do Código Civil. Além de professor, foi promotor público.
[3] MORTATTI, Maria do Rosário Largo. Os sentidos da Alfabetização. São Paulo: Editora da Unesp, 2000.
[4] Mortatti, p. 26.
[5] , Maria do Rosário Mortatti para a sua análise no quarto momento, até porque o livro dela foi editado em 1999. A partir daqui, apresentamos exclusivamente o nosso ponto de vista sobre o assunto.
[6] Os livros didáticos dos autores que preconizam o método fônico tentam ‘contextualizar’ o processo de alfabetização, lançando mão de pequenos textos.