domingo, 22 de novembro de 2015

PROFESSORES QUE GRITAM


 
“As professoras nos pedem para não gritar gritando. Tenho medo de um dia ficar parecida com elas...”
                                                              Retirado do livro A Inteligência Aprisionada de Alicia Fernandez

O grito dos professores assusta os alunos que não merecem ouvi-lo, humilha e tem efeito momentâneo.
Se gritar fosse a solução, não haveria indisciplina nas escolas.
Utilizar o grito como estratégia de aula é coisa antiga. Quanto mais a prática é tradicional, mais o grito é utilizado.
No livro A Inteligência Aprisionada, aliás deixo aqui essa indicação de leitura, que trata de crianças com problemas de aprendizagem, a psicopedagoga Alicia Fernandez expõe inúmeros casos em que as crianças se negam a aprender por receio de ficarem parecidas com os professores.
Rudolf Steiner, quando discorre sobre os temperamentos, diz que os professores coléricos deixam marcas irreparáveis na vida das crianças.
Se os professores procurassem outras estratégias, perceberiam que o grito apenas abafa um sentimento coletivo. Quem gosta de ser tratado aos gritos?
Muitas vezes, no calor da aula e na ânsia de terminar o conteúdo a ser estudado, acabamos por gritar para conseguir uma atenção mais rápida, até ai, tudo bem mas, o problema é quando esse grito vem acompanhado de arrogância e prepotência.
Os professores das décadas passadas, de trinta anos atrás, humilhavam os alunos sem piedade e era muito comum comentarem com os outros professores sobre os alunos, denegrindo-os com crueldade. Lembro-me até hoje das broncas homéricas que a minha professora de português nos dava e de como ela fazia questão de dizer que a gente não ia ser ninguém na vida, certamente algum de nós deve ter profetizado essas palavras, infelizmente. Isso ainda acontece, talvez mais veladamente, pois os professores temem a reação dos pais, porém, a pedagogia do grito ainda reina bravamente.
Certa vez uma professora me perguntou como fazer para conseguir a atenção dos alunos ou impedir a indisciplina sem gritar. Lhe indiquei vários outros caminhos, porém ela não teve a determinação e a paciência para que a nova estratégia desse certo e continuou não sendo ouvida pelos alunos. Quem mudou a forma de abordar as crianças, percebeu que tudo depende da maneira que o professor se expressa.
Vamos aos passos: 1 - Expressões faciais funcionam muitos melhor do que o grito, podem acreditar. Quando precisar chamar a atenção de um aluno, chegue perto dele e diga o que deseja bem baixinho, afinal os colegas que não estão precisando ser chamada a atenção não merecem o grito. 2 - Quanto mais baixo você falar, mais os alunos notarão que precisam parar de falar junto com você. 3- Começar a cantar uma música bem baixinho e pedir que os alunos acompanhem, também é uma boa estratégia. 4- o quarto passo é o mais importante, utilize uma prática amorosa e de respeito às individualidades. Uma aula animada, com conteúdos contextualizados são a garantia de sucesso e disciplina. Será que sua aula é interessante? 5 - será que a sua figura agrada os alunos? Falo aqui da autoridade amada. Se os alunos realmente gostam do professor, esse jamais precisará gritar.
Professor que grita demais necessita urgentemente rever sua conduta, ou a relação com os alunos se torna doentia.
Vivemos em uma época de mediação de conflitos. Os professores precisam ser dotados de inteligência para administrar as situações que aparecem. Saber lidar com imprevistos, mudar de estratégias rapidamente, reverter uma situação complicada, são os diversos desafios dos novos tempos, portanto se o professor ainda grita demais com seus alunos, está ficando obsoleto e retrógrado.
Simpatia, bom humor, sensibilidade, criatividade acompanhados de rigor são medidas que caem muito bem na atuação de um profissional competente que faz do seu dia a dia escolar momentos de verdadeira aprendizagem.
 É uma escolha, basta querer transformar o que já não cabe mais.
NÃO GRITE, CONVERSE!

Andrea Cassone

sexta-feira, 20 de novembro de 2015

COMO FICA A ATUAÇÃO DO PROFESSOR DIANTE DESSA GERAÇÃO DE PAIS QUE SUPER PROTEGEM?

Boa pergunta! Difícil resposta!
Mas vamos pelo menos tentar refletir sobre essa questão!
Eu garanto que a frase mais comum que o professor anda escutando quando conversa com os pais sobre algum conflito acontecido na escola é: - MEU FILHO NÃO MENTE! Poxa quando escuto isso, desanimo de verdade! Como assim?? Criança mente, e muito! E o fato da criança mentir ou inventar histórias faz parte do seu processo de socialização, fruto de uma fantasia ou para escapar de um castigo. Entre 2 a 5 anos, a mentira deriva de fantasias e a criança mente sem ter consciência de que o que ela está falando não é real.
A partir dos 6 anos com o pensamento mais estruturado, já começa a ter boa noção de certo e errado e, muitas vezes menti para escapar de uma punição, pois já tem consciência dos seus atos e usa de malandragem para se livrar dos castigos.
O que os pais não compreendem é que mentir muitas vezes deriva do instinto de sobrevivência e adequação ao mundo adulto, portanto o problema não é a mentira em si, mas como os pais reagem diante das mentiras.
Quando acontece algo na escola, geralmente os pais já chegam tendenciosos a não aceitar a fala dos profissionais e o discurso é o mesmo: - MEU FILHO  NÃO MENTE!
Mais uma vez vou repetir que, o ponto crucial não é a mentira, e sim, como se comportar diante dela.
O excesso de proteção que essa nova geração de pais estão reservando aos filhos, muito me preocupa. Educar nos tempos atuais requer habilidade, calma, observação e bom senso.
Acreditar na escola nesse sentido se faz fundamental, pois, se o professor fizer algumas colocações e os pais confiam, poderá auxiliar com mais exatidão, porém, se a relação não for amistosa, com certeza os pais apoiarão a criança sem ao menos escutar a fala do professor.
Quando não conseguimos que os pais compartilhem conosco, a criança percebe a relação entre escola/família e ai aproveita a situação para tirar vantagem, pois sabe que é só ela fingir alguma coisa, que os  pais logo vão apoiá-la, criando assim uma relação mimada, cheias de vontades incabíveis.
Sinceramente não sei até onde irá essa falsa proteção. Pois, pais conscientes sabem que educar com afinco é um processo doloroso.
Os pais modernos deixam seus filhos tão expostos aos perigos tecnológicos, mas acham que a criança não pode sofrer na vida e tentam maquiar a todo custo o valor da vida real.
.
Quero dar uma sugestão: Compartilhe a educação de seus filhos com pessoas de sua confiança. Quando a escola chamar para uma conversa, tente compreender a situação e juntos família/escola tomem medidas para evitar a reincidência das mentiras.
Lembrem-se, criança mente sim, e isso não significa desvio de caráter.
As crianças são seres em formação e muitas vezes nos testam para saber até onde podem chegar, e isso é um processo natural.
O que está fora da ordem é essa proteção desmedida e, essa  sim, pode causar danos na constituição das crianças, que se tornarão irreparáveis.
A vida não passa a mão na cabeça, quando chegam as lições para o amadurecimento do ser, se este não tem preparo e força, inegavelmente sofrerá muito, ao passo que pais que criam seus filhos para a vida real, esses sim vislumbrarão um futuro melhor para seus filhos.
Nesse contexto, o professor precisa desenvolver estratégias que envolvam mais assuntos da vida cotidiana e investir mais na mediação de conflitos. Como? Se na sua escola não existe espaço e aulas voltadas para as relações humanas, sugiro que na aula de Português trabalhe com as crianças textos e histórias que envolvam temas como respeito, as fábulas são excelentes para isso, e não apenas para crianças pequenas, elas podem ser utilizadas em qualquer fase. Existem também histórias curativas que ajudam demais a nossa prática. Na aula de história, trabalhe com grandes personalidades, identificando nelas exemplos de vida e caráter, garanto que será um bom começo.
Enquanto isso, nós professores vamos tentando fazer o que for possível para que essa geração não fique tão enfraquecida diante da vida ou então nós ficaremos ainda mais fracos e impotentes, restando apenas a esperança de que alguma semente seja plantada no coração dessas crianças mimadas pelos pais, perdendo a oportunidade de amadurecerem com equilíbrio.